sexta-feira, 24 de abril de 2015

Padre Neves: o eterno missionário!

Arquivo Pessoal de Pedro Botelho Neto /Foto : Missa em Ação de Formatura de Pedro Botelho Neto, abril de 2012

Vai demorar muito tempo - talvez séculos! - para que Chapadinha
 tenha a dimensão exata do imenso vazio espiritual, político e moral
 que a partida do maior líder religioso de toda a sua história
representa. Padre Manuel dos Santos Neves – ou simplesmente
 Padre Neves, como costumavam chamá-lo – era uma figura
raríssima, dessas que surgem de tempos em tempos sobre a
 terra e que despertam a nossa atenção por reunirem, em si
 e ao mesmo tempo, todas aquelas características que nas
demais pessoas só se revelam de forma isolada e em
 geral bastante tímida: dignidade, coragem, sabedoria, generosidade,
 força de caráter, humildade e fé.


Analisando a trajetória desse português nascido na Vila de Cucujães,
 Portugal, a primeira coisa que a gente se pergunta é: o que teria
 feito esse homem deixar para trás parentes, amigos e uma
 vida certamente promissora e confortável - tudo aquilo que,
 como diria Mário Vargas Lhosa, a nossa "Civilização do Espetáculo"
 mais preza e cultua - para se embrenhar nos confins do Maranhão
 nos idos de 78, uma terra inóspita, marcada pela pobreza e pelo
 latifúndio, pela violência e pela desigualdade social? A resposta
 a essa pergunta quem nos dá é o próprio Padre Neves, no prefácio
 do livro É mesmo uma boa nova, do meu amigo Padre Pedro:
"Ser missionário, deixar sua família e cultura, não é sacrifício,
 mortificação, renúncia... é livre preferência, alegre investimento,
 imensa alegria e enriquecimento humano".

Para Manuel Neves, portanto, levar a palavra de Deus a quem
necessitava era uma alegria, uma forma de crescimento espiritual -
 não um martírio. Eis o verdadeiro espírito missionário. E foi
esse espírito missionário, aliado à imensa fé cristã, que o trouxeram
para nosso meio. E que o ajudaram a enfrentar com firmeza e
 determinação as dificuldades, as perseguições, os desafios e incompreensões
que desde sempre se lhe puseram no caminho. "Fomos sujeitos
a inquéritos policiais, tivemos que nos apresentar em tribunais,
responder a falsas acusações nos meios de comunicação social...
Mas durante todos estes trinta e seis anos, os missionários,
 em comunidade apostólica, aceitaram o conselho evangélico: ‘não
 tenhais medo dos homens’." E não tiveram mesmo!

Mas se, por um lado, a postura firme e irrenunciável a favor dos menos
 favorecidos e contra a exclusão social atraiu o ódio dos poderosos,
 por outro, fez com que Padre Neves conquistasse o coração e a
alma do povo humilde das centenas de comunidades e bairros
espalhados na região de Chapadinha, que viam nele mais que
um simples líder religioso: na verdade, o tinham como um amigo,
um irmão e – por que não dizer? - um grande pai. A prova dessa
 simbiose espiritual e social com a população podia ser facilmente
constatada durante as festividades religiosas organizadas pela
 paróquia sob a liderança luminosa do Padre Neves, entre elas
 as procissões em homenagem à santa padroeira da cidade, Nossa
 Senhora das Dores, que atraíam – e ainda atraem - milhares de pessoas.

No entanto, apesar de todas essas claras demonstrações de
prestígio social e religioso, Padre Neves sempre manteve a humildade,
 reconhecendo que a obra em prol da Igreja deveu-se menos à sua
 atuação individual do que ao próprio trabalho divino: "Deus foi,
é e será sempre o eterno senhor e operário da messe. Nós apenas
lhe damos visibilidade e, quantas vezes, com notório atraso. Quando
 pensamos que trazemos a iniciativa da Boa Nova, já a achamos
trabalhando, em etapas de salvação, na vida do povo. Evangelizamos,
 mas também somos evangelizados por esse silencioso e fecundo
trabalho do Espírito". Eis aqui uma lição para alguns semideuses,
desse e de outros credos, que há muito deixaram em segundo plano a
palavra divina para se transformar em astros pop. Pura jactância.

A contribuição de Padre Neves, porém, não se resume à revitalização
 e consolidação da Igreja Católica em nosso município. Seu maior
 legado é ter semeado entre nós os valores cristãos da solidariedade,
 do amor aos desamparados e do combate intransigente às injustiças
– tudo isso sem aderir a particularismos ideológicos de direita ou
 de esquerda, a interesses de grupos políticos oficiais ou de oposição.
Graças a ele, hoje sabemos que a evangelização não pode ocorrer no
 vácuo, longe das questões do mundo concreto dos homens. Que fé
e justiça social andam de mãos dadas. E que a tarefa de levar a
Boa Nova exige entrega livre, espontânea e absoluta. "Eu sou dos que
pensam que na vida cristã ou se joga tudo ou não se ganha nada. Não
 importa o que temos. Só nos enriquece o que damos".

É por essa firmeza de convicção e pela força de caráter que sua vida
se transformou num dos poucos exemplos entre nós capazes de
[orientar jovens e velhos na busca da verdade, do perdão e do amor
 divino. Jamais transigir com a injustiça ou com a hipocrisia.
Jamais admitir a mentira ou a falácia. Fazer com que o povo tome
as rédeas do seu próprio destino: eis os motivos por que Padre Neves
[lutou durante toda a vida. "Sensibilizar o povo para mudar
 esta situação, desenterrar e levá-lo a assumir a sua dignidade
humana, formar os ambientes para o respeito ao Estado de Direito
 da sociedade, organizar as comunidades para uma digna participação
 sindical, política e social. Tudo isto, além de quebrar velhas
 e abusivas arbitrariedades dos políticos locais... tornou-se
uma constante preocupação nossa, mexeu comigo e meus colegas".

Quem nesses dias acompanha o clamor do povo simples, as lágrimas,
a comoção dos amigos mais próximos e dos colegas de trabalho,
as declarações públicas – das mais sinceras às que não passam
 de meras formalidades – há de em algum momento, lá no fundo da
sua consciência, também se perguntar: e eu, o que estou fazendo
para melhorar a mim mesmo e aos que me cercam? Quando essa
 pergunta se fizer presente, e, principalmente, quando ela começar
a se transformar em atos de fé e esperança, é sinal de que aprendemos
 a lição. De que as sementes plantadas pelo grande missionário já estão
 frutificando. Aí então teremos a certeza de que sua missão foi cumprida.


Ivandro Coêlho, professor e jornalista.



Faleceu Padre Manuel dos Santos Neves, Vigário da Paróquia de NSª das Dores de Chapadinha


Notificamos  o falecimento do vigário da Paróquia de Nossa das Dores, Padre Manuel dos Santos Neves. Tivemos essa triste notícia neste dia 19, justo na capela de Santo Expedito, a última capela por ele construída, após as mais de 20 Capelas e igreja aqui construídas em Chapadinha. Faleceu às oito horas de Portugal, no Hospital da cidade de SANTA MARIA, onde se encontrava internado.

Todo mundo pensava que iria vencer mais o obstáculo da pneumonia que acabou atacando nosso vigário, e acabou vitimando, dado seu estado de saúde debilitado por quase três meses de internamento. Até o sobrinho dizia que seria uma coisa leve e fácil de vencer. Mas acabou sendo levado a óbito.

Agradecemos a todos que ligaram e rezaram pelo Padre Neves e nos deram os sentimentos.

Chapadinha o que deve ao saudoso Padre Neves!Padre Neves você foi um mestre, um professor, um profeta,  um pai, um inovador, amigo, conselheiro, um construtor.

Que o digam os jovens, os casais, os acólitos, os trabalhadores, as comunidades, os Bairros...

Tem mortes que são para chorar. Esta é uma morte que é para louvar a Deus por um homem tão inteligente e um apóstolo e um vigário tão dedicado. Um pastor todo entregue à sua missão.

Agradecemos Senhor, esta vida que veio para tornar esta nossa vida com mais qualidade e mais valia.

Adeus Padre Neves,amigo, companheiro e mestre.

Chapadinha não seria tão Chapadinha sem a tua presença. A Paróquia te deve muito. Os missionários da BOA NOVA te devemos muito.

Só faço votos que o Município de Chapadinha ( onde você é cidadão honorário e o Brasil Pátria de adoção, como tendo duas nacionalidades) te recorde com saudade, e uma Rua seja batizada como teu nome. Quem sabe, a rua onde você passou mais vezes,a rua que você viveu 37 anos. Amém