segunda-feira, 26 de abril de 2010

A VIDA NA ERA DIGITAL



Uma boa maneira de avaliarmos a passagem da informação analógica para a digital e a expansão dos meios de comunicação digitais é refletir sobre a diferença entre átomos e bits.
O bit é a menor parte da informação digital, uma sequencia de zero(s) e um(s). E ao contrário dos átomos da informação analógica, o bit pode viajar a velocidade da luz.
A digitalização de um arquivo analógico se da com a coleta de amostras em pequenos intervalos de tempo. Num CD de áudio por exemplo essas amostras são coletadas 44.1 mil vezes por segundo. Quando reproduzido a uma taxa de iguais 44.1 mil amostras por segundo, teremos uma reprodução continua do áudio original. A mesma coisa se aplica a fotografia e ao video.
A digitalização possui muitas vantagens. Algumas delas são a compressão de dados e a possibilidade de correção de erros.
Com alguns bits extras, podemos viabilizar de uma só vez, informação e informação sobre a informação, além de várias outras ferramentas para correção de erros como estática no telefone, xiado no rádio e chuviscos na televisão.
Essa informação sobre a informação é uma das mudanças mais evidentes e imediatas que se nota na mudança do analógico para o digital. Ela funciona como um cabeçalho, ou palavras-chave. Funciona como uma busca na internet. Você digita o assunto que quer ver, e uma lista das matérias jornalísticas do dia aparece na tela. Ou você digita o nome do filme que deseja assistir, e em poucos segundo faz o download.
Outra mudança notável no sistema digital é a capacidade de se misturar áudio, vídeo, textos, gráficos, animações e fotos em bits. Isso é a multiplexação de conteúdo, ou o que chamamos de “multimídia”.
O televisor convencional, é um aparelho extremamente simples, não passa de um receptor. Ele não permite interação nenhuma. Provavelmente o seu microondas é mais interativo e “inteligente” que a sua TV. Essa é totalmente dependente da edição. Toda a inteligência está do lado do transmissor.
Talvez esse seja o ponto (que não vem sendo observado nas discussões atuais) em que nós deveríamos nos ater como ponto principal dessa mudança para o mundo da informação digital. A mudança do lado inteligente do processo, que passaria do transmissor para o receptor. O computador-tv receberia a informação, bloqueando conteúdo indesejado, filtrando os assuntos mais interessantes para você, classificaria as músicas do show de acordo com o seu gosto, leria o jornal da hora e enviaria as noticias mais importantes para o seu celular caso necessário.
É claro que tudo isso depende na nossa capacidade de transmitir todas essas informações de maneira rápida e segura. E mais, da quantidade de bits que poderemos transmitir por segundo, a chamada largura de banda. Os fios telefônicos chamados de “par trançado”, são de baixa largura de banda. Já a fibra, que é 200 vezes mais rápida que o par trançado, e a transmissão pelo ar são de banda larga. A transmissão pelo ar contudo deve ser usada à curtas distancia e de modo controlado, pois pode acabar em conflito com outros sinais como por exemplo de controle de aeroportos ou de unidades militares. Uma solução para isso é uma estrutura de revezamento entre fibra e ar, a chamada “inversão Negroponte”. A fibra parece ter vantagens em todos os pontos sobre o cobre. A única vantagem do par trançado é a capacidade de levar junto à informação a energia elétrica necessária para a recepção da mensagem. Por isso o sistema totalmente digital teria que usar algo como cobre revestido com fibra ou vice-versa. Mas a informação em si seria totalmente transmitida pela fibra.
A relação entre largura de banda e computação é sutil. Ao comprimirmos os dados antes de envia-los ao receptor economizamos espaço de banda. A compressão é a mesma para um filme de terror, ou um jogo de futebol ou um telejornal. E podemos fazer com que 100 mil bits ocupem o espaço de um.
Além da largura de banda, a maneira com a transmissão e feita também conta. No caso da telefonia, as linhas são distribuídas na forma de “estrela”, saindo das centrais telefônicas e indo até as casas das pessoas. No caso da TV a cabo, as linhas são compartilhadas entre as pessoas, indo de casa em casa na forma de “laço”. Essas formas de distribuir o sinal são adequadas as suas funções específicas. No caso do telefone, as conversas são pessoais e ponto a ponto, no caso da TV a cabo, as pessoas compartilham a mesma programação. No futuro, todas as conexões serão do tipo “estrela”, levando um conteúdo único para cada consumidor.
Os bits com a informação seriam empacotados e colocados na rede e poderiam conter informações sobre seu destino, e que, no caso de estar ocupado ou inacessivel ficaria em espera até que fossem recebidos. O usuario pagaria pelos pacotes e não por minutos.
Ao inves de transmitir simultaneamente um filme para todo país, uma emissora poderia manter o canal livre para outras atividades enquanto os usuarios baixam o filme de uma hora e meia de duração em poucos segundos.
A TV do futuro era pensada apenas como um aparelho analógico de alta definição. Apenas em 1991 os engenheiros norte americanos trocaram a TV analógica pela digital. A Televisão digital é extremamente maleável, permite que as pessoas aproveitem seus bits antigos, permite também substituir as funções de som por sistemas mais potentes ou modernos, ou atualizar o software ou qualquer outra função.
Essa TV do futuro não ficará presa ao sentido único e irreversível que temos na televisão atual. Poderemos reordenar a informação, ou excluir algo que não nos interessa, expandir a informação ou agregar notas com definições de palavras e termos. Essas alterações podem ser feitas pelo autor no ato da edição ou pelo consumidor da informação. A diferença entre computador e televisão vai diminuir até que seja inexistente.
Nesse sistema digital interativo, os bits serão interpretados pelo receptor. Assim os bits de uma partida de futebol, quando chegam a casa das pessoas podem ser interpretados como voz, para que seja consumido como rádio, ou como video onde a pessoa escolhe de que angulo quer assistir a partida. Ou então os bits poderão ser lidos como gráficos das jogadas para uma análise mais técnica do jogo.
Esse é o grande passo dado pela TV digital, ela é multimídia. Uma mistura de áudio, video, Texto, gráficos e animações. Tudo transmitido em forma de bits.
A entrada nesse mundo digital vai mudar também a nossa maneira de lidar com a proteção da informação. Com esse novo sistema a cópia de material protegido poderia ser feita de de qualquer lugar do mundo em alguns segundos, e com a mesma qualidade do original. Quem pagaria por tudo isso? Pense na internet como ela é hoje. Ela não é exatamente gratuita, mas ninguém reclama do seu preço quando analisa a alternativa de ir ao posto dos correios para enviar uma carta ao invés de usar o email, ou em ir ao banco para fazer algo que poderia ser feita pela internet.
Todo esse conforto de ter produtos e serviços sem sair de casa também vai mudar a indústria. Por exemplo uma empresa que produz e vende CDs e DVDs não vai mais precisar de um parque gráfico ou pagar pela prensagem da mídia, ela vai vender pela internet e o consumidor em um click recebe via fibra o produto e sua máquina multifuncional faz todo o resto (inclusive cortar o papel e confeccionar o encarte). As únicas coisas que teremos que trazer da rua seriam o suporte físico final e as caixas de plástico (além de mater as multifuncionais com tinta e papel).
Ser digital representa também o fim das fronteiras entre os sistemas NTSC (norte americano), PAL (europeu) e SECAM (francês). Se você não conseguir acesso a uma determinada informação por incompatibilidade, irá instalar um software no seu set-top box (conversor), passando assim a ter acesso àquelas informações.
O set-top box, que hoje é explorado apenas como um sintonizador, será muito mais que isso. Será uma peça única e totalmente compatível com todos os aparelhos de TV, telefones celulares, palm-tops, ETC. Esse acessório poderia por exemplo fazer as cobranças, você insere seu cartão de crédito e o aparelho executa o pagamento do aluguel de filmes da sua locadora digital online. Ou então poderá também com seu cartão comprar entradas virtuais para a final do campeonato e assistir o jogo do angulo que quiser como se estivesse no estádio.
O primeiro passo para construirmos uma TV do futuro é parar de pensar a TV como TV. No futuro não haverá uma indústria de televisores, essa indústria será uma fábrica de computadores. Ver televisão, com exceção dos programas ao vivo, jogos e eventos esportivos ou resultado de eleições, será como baixar coisas na internet. O conversor então, será como um portal de entrada, e também o local onde toda informação se processa. Ele será capaz de alternar entre os serviços de TV, internet, Rádio e telefone, ou fazer a convergência desses serviços.
Poderemos assistir o telejornal na hora mais conveniente para nós, ou ver os três últimos capítulos da novela sem intervalos. Também poderemos ajustar a quantidade de sexo, ou violência ou conteúdo religioso que permitimos entrar em nossas casas via TV. Poderemos classificar ou reclassificar o conteúdo de acordo com a idade, para proteger as crianças por exemplo. Tudo isso graças ao conversor, que vai lidar com essa quantidade fenomenal de bits.
E quanto custa um bit? O valor do bit não deveria estar relacionado com a natureza do bit em si, ou seja, se carrega um filme, ou uma conversa telefônica, ou uma música ou páginas de uma enciclopédia. E sim estar relacionado ao uso desses bits. Por exemplo: um estudante que baixe um atlas geográfico para um trabalho universitário deve pagar menos que um empresario que baixe o mesmo atlas para implantar um empreendimento comercial. Ou uma criança que baixe uma coletânea de músicas folclóricas pague muito pouco ou até nada, em quando um jovem que baixe o ultimo álbum de sua banda favorita pague o preço de mercado ou até mais, para financiar os serviços prestados a criança.
E com toda essa informação voando, passando do ar para o subsolo e do subsolo de volta para o ar, é fundamental que estipulemos regras e que se estude uma maneira eficaz de utilização do espectro, e assim fazer a convergência de TV, rádio, telefone e internet. A flexibilidade no mundo multimídia é fundamental. Os bits não estão presos a sua emissora, você é quem decides como usar esses bits. Essa é a razão da multimídia, a passagem de um meio para o outro, aqui o meio não é a mensagem. Depois de deixarem a emissora, o usuário escolhe se vai imprimir o jornal em casa para ler no banheiro, ou se baixar para o palm-top e ler no banco de trás do táxi ou então enviar tudo por email para ler no trabalho. Essa fluência entre os meios vai além dos limites de tempo e espaço. Assim uma comunicação empírica poderia se materializar de acordo com nossas necessidades. Uma conversa telefônica poderia ser interpretada pelo nosso conversor, colocada em forma de texto e impressa para nos lembrar de algo importante mencionado na conversa, como um número de telefone ou uma lista de mercado por exemplo. Ou o contrario, uma seqüencia de bits que originalmente era uma informação escrita pode ser lida pelo nosso set-top box e transmitida na forma de uma voz suave enquanto cochilamos no sofá.
Em fim. São tantas as possibilidades desse universo digital, que ninguém poderia dizer ao certo que vai acontecer quando ele for realidade.

(Síntese do texto A vida digital )