por Alexandre Lozett
Betinho, emocionado, comemora o gol do título do Palmeiras (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com) |
Quando surgiu o Alviverde Imponente no gramado do Couto Pereira, onde a luta
o aguardava, ele sabia bem o que vinha pela frente. Um Coritiba inflamado,
empolgado, confiante, regido por fanáticos que se orgulham em chamar de “inferno
verde” o ambiente criado para receber os rivais. Mas hoje o céu também é verde,
no tom que estampa os corações de uma torcida que canta e vibra. O Palmeiras
soube mostrar que, de fato, é campeão. É campeão de novo. É campeão da Copa do
Brasil!
O empate por 1 a 1 com o Coritiba, com gol de Betinho, que provocou piadinhas
e críticas até mesmo dentro do clube quando foi contratado, consagrou um time
que teve de tudo, menos a famosa "sorte de campeão". Teve o artilheiro Barcos
fora das finais por crise de apendicite, o criativo Valdivia expulso no primeiro
jogo, o bravo Henrique febril no segundo e ainda perdeu, no primeiro tempo do
Couto Pereira, Thiago Heleno por lesão.
Mas o Palmeiras teve raça, disposição, jogadores empenhados em colocar novamente
nos rostos de seus torcedores o orgulho na hora de encarar os rivais nas ruas
depois de quatro anos sem títulos, desde o Campeonato Paulista de 2008. Fatores
capazes de superar as limitações de um time que não vai se eternizar na galeria
dos grandes esquadrões, mas estará, para sempre, na lista de campeões no
Palestra. Lista que volta a destacar o bicampeão Luiz Felipe Scolari. Era ele o
técnico no primeiro título da Copa do Brasil, em 1998. É ele o técnico no
segundo. Mais velho, mais ranzinza, menos tolerante até mesmo com seus patrões,
mas ainda um vencedor. E foi o quarto título do treinador na competição - além
do Verdão, levantou a taça com Criciúma (1991) e Grêmio (1994). O Verdão também
se torna o time com o maior número de títulos nacionais, com dez (duas Copas do
Brasil e oito brasileiros, contando com os torneios unificados pela CBF).
O Coritiba perdeu a sua segunda final consecutiva (em 2011 foi derrotado pelo
Vasco), mas se estabeleceu como um grande, uma equipe que se impõe diante de sua
torcida e passa a ser mais respeitada em qualquer competição. Resta saber se a
diretoria terá a paciência e a disposição para manter o trabalho, assim como no
ano passado.
Ao time paranaense restam o Campeonato Brasileiro e a Copa Sul-Americana. O
Palmeiras também tem as duas competições pela frente, mas com o alívio de estar
garantido na Taça Libertadores de 2012. Algo muito, muito importante,
principalmente porque o outro brasileiro que já carimbou vaga é o Corinthians,
arquirrival e atual campeão. Título e classificação que podem fazer a equipe
navegar em mares calmos, algo raro ultimamente.
Rafinha contra a 'rapa'
Parecia uma regra da final: o Coritiba só podia jogar por onde estava
Rafinha. E o arisco camisa 7 começou pelo lado direito, onde logo conseguiu que
seu marcador, Juninho, levasse cartão amarelo. Mas ser dependente de Rafinha não
é bom sinal. Isso ficou evidente quando ele se jogou na entrada da área e também
foi advertido pelo árbitro Sandro Meira Ricci, e quando justamente em seu lado o
Palmeiras começou a dominar a partida.
Juninho e Mazinho foram grandes, apesar dos nomes. Tabelaram, triangularam
quando Henrique ou Betinho se aproximaram, e criaram chances que fizeram time e
torcida do Coxa baixarem a bola. Um silêncio quase sepulcral quando Betinho,
livre, finalizou para fora após cruzamento de Marcos Assunção. Sempre os
cruzamentos do capitão... Eles voltariam no segundo tempo.
Rafinha mudou de lado, foi para onde o campo estava em piores condições. E
parecia que o Verdão do Paraná só chegaria com perigo se o Verdão de São Paulo
errasse. Foi o que Thiago Heleno fez. Bobeou feio à frente de Everton Costa,
atacante perigoso, "chato" para os zagueiros, mas sem faro de artilheiro. Ele
rolou para Rafinha, que deu o maior susto em Bruno. O chute de pé esquerdo
passou muito perto.
Betinho: o herói da vez
Marcelo Oliveira voltou do intervalo com Ayrton, um lateral mais ofensivo, no
lugar de Jonas. Pediu que sua equipe jogasse mais bola. Atitude o Coritiba até
teve. Povoou o campo de ataque, explorou os avanços de Rafinha pela direita e
fez a bola chegar mais à grande área do Palmeiras. Mas faltava qualidade
técnica, que o técnico tentou ganhar com a entrada de Lincoln no lugar do
volante Sergio Manoel.
Ayrton e Lincoln. E Marcelo, que havia errado nas substituições nos últimos
jogos, mostrou o resultado de conhecer bem seu grupo. O meia sofreu falta, e o
lateral bateu com perfeição, rente à trave. Gritou, mostrou o símbolo aos
torcedores, quase arrancou a camisa. E deu o recado para os palmeirenses: "Ainda
tem jogo!".
Tem mesmo? Falta para o Palmeiras na entrada da área logo depois. Muita
reclamação do Coritiba. Dá para entender... Passou um filme na cabeça de
milhares de pessoas na arquibancada. Quantos gols esse time de camisa verde já
fez dessa forma? Um filme de terror para os anfitriões, uma deliciosa comédia
para os visitantes. Um filme cujo protagonista é Marcos Assunção, e o
coadjuvante se reveza. No mais importante de todos os gols de bola parada da
segunda era Felipão, foi Betinho quem tirou o grito preso há tanto tempo na
garganta, no peito e no coração dos palmeirenses.
O Coritiba, por obrigação, colocou mais um atacante e passou a tentar e
correr mais. Mas no fundo, todos sabiam que quem sofreu tanto para fazer um
golzinho não conseguiria fazer três em pouco mais de 25 minutos. Ainda mais na
"defesa que ninguém passa". O relógio passou a ser o principal personagem da
atração que teve início na vitória por 2 a 0 na Arena Barueri. Os últimos
minutos já se transformaram no início da festa. Luan, que disputou machucado o
fim da partida, e Felipão tiveram seus nomes gritados. O que não faz um
título...
Em meio aos torcedores, o suspenso Valdivia, o operado Barcos e o santo
aposentado Marcos pareciam cidadãos normais, como esses palmeirenses que vão
sair de casa nesta quinta-feira sem medo de cruzar com um amigo torcedor de
outro time. Sem terem que mudar de assunto quando começarem a falar de futebol.
E com um sorriso largo, do tamanho da futura Arena Palestra. Sorriso de campeão.
Coxa pressionou, mas não conseguiu passar pelo Palmeiras (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com) |
Everton Costa, do Coritiba, com Maurício Ramos, do Palmeiras (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com) |